sábado, 26 de fevereiro de 2011

A Moralidade é Ouro


   A sociedade está povoada de notícias que comprovam o quanto a corrupção e a desonestidade estão corroendo relações, provocando prejuízos irreversíveis na vida de cidadãos e de famílias, com sérios comprometimentos sociopolíticos. A confiança que se deposita em pessoas, no exercício de suas responsabilidades funcionais e ofícios, está e certamente continuará sendo abalada. O mesmo ocorre também na relação com as instituições, que têm tarefas de proteção aos direitos e à integridade de todos, constituídas para proteger o bem público, garantir a ordem e a justiça. Quando menos se espera, estouram aqui e ali acontecimentos que provocam decepção e generalizam a insegurança. Não se esperam conivências interesseiras dos que têm tarefa de garantir a justiça. Conveniências que comprometem a vida de jovens e de outros que têm seus sonhos inviabilizados de maneira irreversível.
    As providências que governos, instituições e outras instâncias da sociedade precisam e devem tomar diante de fatos graves no tecido social e cultural, não podem retardar mais a consideração da moralidade como ouro na história de todos. Esse cenário com suas violências, desmandos, corrupções, tráficos e outras condutas imorais, é origem de tudo o que esgarça o tecido moral da cidadania. Valor que é a base para vencer seduções e ter força para permanecer do lado do bem, com gosto pela justiça e fecundo espírito de solidariedade. É imprescindível redobrar a atenção quanto à moralidade que baliza a vida de cada indivíduo e regula suas relações. É urgente e necessário avaliar o quanto o relativismo tem emoldurado critérios na emissão de juízos, na formatação de discernimentos, trazendo direções equivocadas e prejudiciais nas escolhas, tanto no âmbito privado quanto no exercício da profissão, da política e de outras ocupações na sociedade.

Fonte: CNBB autor: Arcebispo de BH Walmor Oliveira de Azevedo

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A difícil tarefa de ser teólogo

     Muitos estranham o fato de que, sendo teólogo e filósofo de formação, me meta em assuntos, alheios a estas disciplinas como a ecologia, a política, o aquecimento global e outros.
    Eu sempre respondo: faço, sim, teologia pura, mas me ocupo também de outros temas exatamente porque sou teólogo.
    A tarefa do teólogo, já ensinava o maior deles, Tomás de Aquino, na primeira questão da Suma Teológica é: estudar Deus e sua revelação e, em seguida, todas as demais coisas “à luz de Deus”(sub ratione Dei), pois Ele é o princípio e o fim de tudo. Portanto, cabe à teologia ocupar-se também de outras coisas que não Deus, desde que se faça “à luz de Deus”.
   Falar de Deus e ainda das coisas é uma tarefa quase irrealizável. A primeira: como falar de Deus se Ele não cabe em nenhum dicionário? A segunda, como refletir sobre todas as demais coisas, se os saberes sobre elas são tantos que ninguém individualmente pode dominá-los?
   Logicamente, não se trata de falar de economia com um economista ou de política como um político. Mas falar de tais matérias na perspectiva de Deus, o que pressupõe conhecer previamente estas realidades de forma critica e não ingênua, respeitando sua autonomia e acolhendo seus resultados mais seguros.
  Somente depois deste árduo labor, pode o teólogo se perguntar como elas ficam quando confrontadas com Deus? Como se encaixam numa visão mais transcendente da vida e da história?
   Fazer teologia não é uma tarefa como qualquer outra como ver um filme ou ir ao teatro. É coisa seríssima pois se trabalha com a categoria”Deus” que não é um objeto tangível como todos os demais. Por isso, é destituída de qualquer sentido, a busca da partícula “Deus” nos confins da matéria e no interior do “Campo Higgs”. Isso suporia que Deus seria parte do mundo.
   Desse Deus eu sou ateu. Ele seria um pedaço do mundo e não Deus. Faço minhas as palavras de um sutil teólogo franciscano, Duns Scotus (+1308) que escreveu:”Se Deus existe como as coisas existem, então Deus não existe”. Quer dizer, Deus não é da ordem das coisas que podem ser encontradas e descritas. É a Precondição e o Suporte para que estas coisas existam. Sem Ele as coisas teriam ficado no nada ou voltariam ao nada. Esta é a natureza de Deus: não ser coisa mas a Origem das coisas..."
por Leonardo Boff em 21/02/2011 fonte no link:

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Vaticano reafirma valores da teologia da libertação


     O arcebispo brasileiro Dom João Braz de Aviz, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, afirmou que os valores da Teologia da Libertação continuam sendo válidos, mas que ainda é necessário desvincular as causas sociais das influências ideológicas."A opção preferencial pelos pobres é uma opção evangélica da qual dependerá, sobretudo, nossa salvação. Sua construção por parte da Teologia da Libertação representou um olhar sincero e responsável da Igreja com o vasto fenômeno da exclusão social", disse o prelado brasileiro em declarações publicadas nesta terça-feira pelo diário vaticano "L''Osservatore Romano".

    Dom João Braz de Aviz, de 64 anos, lembrou que o papa João Paulo II, falecido em 2005, declarou certa vez que a Teologia da Libertação "não só é útil, mas também necessária".

   O prefeito da Congregação indicou que é preciso continuar corrigindo a interpretação da realidade feita pelo método marxista."Acredito que ainda não foi suficientemente completado o trabalho teológico para desvincular a opção pelos pobres de sua dependência de uma Teologia da Libertação ideológica, tal como advertiu recentemente (o papa) Bento XVI", acrescentou o arcebispo.

   A corrente de pensamento da Teologia da Libertação foi bastante influente na América Latina nos anos 1970 e 1980. Na época, o Vaticano viu com perigo que as tentativas dos teólogos de abordarem cada vez mais as causas sociais se vissem influenciadas por ideias marxistas alheias à mensagem cristãs.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Manifesto de 144 teólogos europeus

   Acabei de ler uma série de artigos da UNISINOS entre eles a tradução do manifesto realizado por 144 teólogos europeus nas últimas semanas, principalmente alemães, para novos tempos para Igreja Católica. Dos temas que mais me chamaram a atenção no manifesto foram a inclusão da comunidade na eleição de Párocos, Bispos e a abertura para o sacerdócio de casados e mulheres.

    Não posso negar minha felicidade em ver tal manifesto por Teólogos respeitados no mundo. Inseridos numa sociedade em que a teologia é um elemento de estudo há séculos e um assunto de Estado, tão importante como qualquer outro estudo do conhecimento humano pós moderno. Esta felicidade vem de temas que me instigaram a fazer o curso de teologia, de buscar entender porque existem alguns assuntos que não entendia na Igreja e percebo cada vez mais que não são apenas meus questionamentos. 
   O tema da eleição dos Párocos e Bispos pela comunidade é algo dos primeiros séculos do cristianismo onde isto era realidade. Somente depois que a Igreja se tornou religião oficial do Império Romano e com a avalanche de conversões que as escolhas foram realizadas por poucos. Assim como o celibato que de algo voluntário de alguns presbíteros tornou-se no decorrer dos séculos imposto, para o cristão que escolhesse o sacerdócio. No primeiro século não se distinguia muito bem quem era sacerdote e quem era "leigo", pois as celebrações eram realizadas de forma caseira ou em catacumbas com rodízio de celebrantes, todos celebravam a paixão de Cristo. Não podemos esquecer que Igreja vem de Ekklesia, que quer dizer assembléia. Muita coisa mudou com a popularização do Cristianismo, uma delas foi a qualidade dos Cristãos. Entre os que eram comprometidos e os que não eram, entre clero e leigo. Na idade média surgiu outra divisão entre o Alto Clero, Baixo Clero e leigos.
    Será que hoje podemos resgatar as origens e a hierarquia Cristã ser mais relacionada ao exemplo da vida cristã e serviço do que um título? Conseguimos novamente ser ao invés de clero e leigos sermos todos Povo de Deus?!

  Manifesto completo traduzido, vale a pena ler: