segunda-feira, 18 de julho de 2011

Paradoxos dos neurocientistas

        " Há mais coisas entre o céu e a terra, Horácio, do que sonha a nossa vã filosofia." Hamlet (Shakespeare)

        A moda da neurociência tem um motivo claro Prof. Miguel Nicolelis. Cientista reconhecido em todo mundo, cotado para ser prêmio nobel e um brasileiro ufanista, tem desenvolvido várias pesquisas de ponta no Rio Grande do Norte; uma de suas pesquisas está relacionada com famílias carentes da periferia de Natal, as mães são acompanhadas desde a gestação, para que as crianças possam ter todas as oportunidades para um aprendizado completo. Até aí aparentemente não se vê problema algum. No entanto, quando vemos neurocientistas dando entrevistas ou em palestras como presenciei na Conferencia Internacional de Educação nos deparamos com um tipo de prepotência nada saudável. Não se vê estas pessoas com dúvidas, este é um aspecto assustador, principalmente para quem se diz ateu ou pelo menos não seguidor de dogmas, verdades absolutas. Todas as respostas estão nas teorias sobre as conexões cerebrais, com suas sinapses, neurotransmissores... no mapeamento do hipocampo, lobo temporal, frontal,... enfim, vem com o neurocientês para provar que até Deus é criação de um modelo gerado no cérebro. A dúvida, o questionamento é o que nos torna Homo Sapiens Sapiens, seres que pensam e sabem que pensam. O mistério que intriga o ser humano e instiga o ser cientifico é a dúvida. Tudo que gira em torno do existir humano os neurocientistas pensam que já conseguiram ou que detém as respostas, e estas estão nas estruturas do cérebro. E eles deixam claro que é a estrutura do cérebro fisico, este negócio de mente, espírito além do cérebro físico faz parte apenas do imaginário, que o próprio cérebro físico em todas as suas conexões neurais consegue criar. Contudo entramos num paradoxo...
       O paradoxo é o seguinte; O Dr Nicolelis realiza pesquisas no mundo real onde também seu cérebro físico está localizado. Ele estuda e elabora teses, por fim absorve experiências e resolve desenvolver um método para novas pesquisas e se aprofundar no estudo. Para isto ele utilizou o mundo que chamamos de imaginário. Segundo ele está localizado no próprio cérebro físico, que cria modelos de realidade e até mesmo nossa concepção de Deus e religiões,  mas o insight que ele teve para desenvolver uma técnica inovadora que nenhum outro cientista utilizou, que é original dele e apenas dele, e provavelmente ganhará o prêmio nobel por isto, foi criado por que tipo de conexão já construída em seu cérebro físico? 
        Porque para ele elaborar uma teoria e esta tendo vindo do cérebro físico, este em contrapartida tem que ter estabelecido a conexão para isto, mas se é algo original, como estas conexões foram estruturadas antes de ele criar o novo? sendo novo para humanidade, como o cérebro físico cria conexões para realizar isto, pois nunca foi visto e experimentado por ele?   vamos mais além, como ele pode provar, visto que a ciência empírica a qual ele se fundamenta é embasado em provas cabais, como ele pode provar que este insight que produz o novo é produzido por conexões neurais físicas?



         Creio que para elaborarmos isto melhor precisamos de alguns conceitos; primeiro o que é mundo real? seria o físico. Mas o que é o físico? tudo que tocamos; o computador que estamos acessando, a tv, nossa casa, o corpo físico, nossa cabeça, nosso cérebro, os impulsos nervosos no cérebro, a corrente elétrica ....isto é real certo?! O mundo imaginário seria aquilo que o cérebro físico cria como modelos, Deus, as religiões, filosofias, teorias de senso comum, teorias científicas?! será que podemos incluir também?! continuamos.... as histórias infantis, as obras literárias, a música etc... tudo criado pelo cérebro físico humano, segundo boa parte dos neurocientistas ateus, conforme o arranjamento de suas conexões.... isto é o imaginário certo?! Agora vamos enquadrar o ser humano que dorme e sonha. No estado mais profundo do sono o REM, acredita-se que sonhamos, embora o sonho também pode se realizar no estado de vigília, mas mais superficial, parecido com o que fazemos quando estamos desatentos e "viajamos" mesmo acordados, ainda conscientes. Superficialmente nos projetamos para fora da realidade física, vamos para o passado ou para o futuro, mas tudo bem ainda estamos num estado consciente ou parcialmente conscientes. Nesta situação as conexões cerebrais podem estar sendo geridas por nós, no mundo real real (mundo físico-cérebro físico) e no mundo imaginário real (pensamento-cérebro físico) e ainda temos consciência disto. Mas o que acontece no estado REM, quando suspendemos nosso estado perceptivo-sensorial e motor voluntário, entrando num estado de relaxamento, mas ao mesmo tempo de caos nervoso, pois não há uma consciência voluntária das conexões nervosas. 
       Em algum instante neste processo iniciamos um sonho lúcido, aquele que todos já tivemos; sabemos perfeitamente descrever a situação, com cores, cheiros, uma pessoa em especial, conversamos, temos conflitos, relações amorosas e de repente acordamos e nos damos conta que nada daquilo era real....não era real?!... mas também podemos afirmar que não era imaginário.

         A dificuldade em fazer um estudo sério quando estamos limitados a um enquadramento cientificista é evidente. No momento em que restringimos tudo ao mundo físico e ao cérebro talvez encontramos um conforto no controle, controlarmos tudo é um sonho antigo da humanidade. A Bíblia tem dois relatos sobre isto, um é sobre a torre de Babel quando o homem que quer ser imponente e mostrar todo seu poder, levanta um monumento em homenagem a si mesmo até os céus e sofre uma punição; que é a de não ter mais a possibilidade de se comunicar claramente uns com os outros. Mas a que melhor relata esta nossa necessidade de controle e que nos distancia de Deus é quando Eva e Adão resolvem comer o fruto da árvore do bem e do mal, a soberba de controlar tudo. Não basta o controle das coisas que Deus deixou sob seu domínio precisa controlar até o que está sob o domínio divino e assim querer Ser Ele. 
          Aqui não estou desestimulando a pesquisa cientifica, justamente ao contrário acho que elas são dons de Deus, a Ciência é colocada pela Igreja como um dos Dons do Espírito Santo muitos séculos antes do racionalismo. Onde os pensadores da Igreja como Hugo de São Vitor séc. XI, São Tomas de Aquino séc XIII, etc... fizeram eco nas palavras de Aristóteles que; "toda ciência é boa". No entanto, esta forma de agir de alguns grupos de cientistas; como detentores de todas as respostas, principalmente sobre o existir humano e fechar num amontoado de carne que virará pó é no mínimo ignorância. 
         O próprio Dr Nicolélis não o imagino como um amontoado de carne, que conseguiu, de forma aleatória estabelecer conexões neuronais que proporcionou a ele as condições para pensar soluções, mesmo que pontuais, para resolver problemas humanos. Assim como não imagino Alexandre Magno como este mesmo amontoado de carne que também de forma aleatória em seu cérebro estabeleceu-se conexões, para difundir e dar a base para o mundo ocidental, por meio da língua grega e sua filosofia. Alguns séculos depois foi utilizada pelos Evangelistas e Padres da Igreja para difundir para toda terra o pensamento de Jesus Cristo. Todos estes olhar como amontoados de carne que estabeleceram novamente por meio de conexões aleatórias do cérebro físico uma forma de pensar totalmente diferente do que estava estabelecido em sua época, de dominação do Império Romano e milhares de pessoas se sacrificarem por esta Verdade. 
       Gostaria que os neurocientistas fizessem um estudo sério de mapeamento comprovatório sobre os temas que abordei, começando pelos nossos sonhos lúcidos, passando por como elaboramos teorias científicas novas e como nos manifestamos espiritualmente...negar evidências é algo que nos distância da verdade. Reconhecer as limitações do estudo e método que praticamos insere virtudes, como a humildade, em todos os estratos da nossa sociedade e permite que sejamos Humanos e plenos, mesmo admitindo nossos mistérios e o que vai além de nós. 

        "Aquilo que hoje está provado, não foi outrora mais do que imaginado." William Blake



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