quarta-feira, 23 de março de 2011

Padre, sou Judia

           Estamos chegando à metade da Quaresma, excelente momento para realizarmos retiros e intensificar na proposta de Jejum, Caridade e Oração. Neste final de semana estarei no retiro de silêncio da Opus Dei, fica numa chácara em São José do Pinhais-PR, onde realiza-se a inclusão de jovens carentes no mercado de trabalho, na área hoteleira, gratuitamente. O custo do Retiro é revertido para manutenção do local. 
           Este tipo de local é a cara do seu fundador Josémaria Escrivá, que tinha como proposta a santidade no trabalho, na vida comum, que confere com a declaração posterior do Concílio Vaticano II onde se propôs que todo povo de Deus é chamado a ser Santo, não apenas os religiosos. Realizar no cotidiano da vida a proposta do evangelho; de buscarmos ser "perfeitos como o Pai é". 

          Homenagem a São Josemaria Escrivá. Neste video responde a uma moça Judia que quer se converter ao catolicismo.


quinta-feira, 17 de março de 2011

Pensamentos pós modernos na "Idade das trevas" ?!

Vejamos algumas citações interessantes de um tal Hugo de São Vitor;

Como chego a perfeição?

    " 1. com estudo
      2. com meditação (reflexão)
      3. com oração
      4. com ação (caridade e ensino)
      5. e finalmente contemplação "

Como o estudante deve agir?

                 "primeiro, não tenha como vil nenhuma ciência e nenhuma escritura
                  segundo, não se envergonhe de aprender de ninguém
                  terceiro, quando tiver alcançado a ciência não despreze aos demais."
                 "Muitos se enganaram por quererem parecer sábios antes do tempo,
                 pois com isto se envergonharam de aprender com os demais o que ignoravam,
                 tu porem meu filho, aprende de todos, de boa vontade, aquilo que desconheces."

                 "Portanto nenhuma ciencia tenha como vil, porque toda ciencia é boa."

Qual método?

                "Aquele que diante de uma multidão de livros não guarda o modo e a ordem de leitura,
                 como que andando em circulo numa floresta perde-se do reto caminho."

 O Prazer de estudar?!

                "Saibas também que não chegarás ao seu propósito se, movido por um vão desejo de ciência,                 dedicar-se as escrituras obscuras, e de profunda inteligencia, nas quais a alma mais se preocupa, do que se edifica."

                 "Como gostaria de mostrar àqueles que se puseram ao estudo por amor da virtude, e não das letras, o quanto é importante para eles, que o estudo não lhes seja causa de aflição, mas de deleite."


                   Talvez isto poderia ter sido escrito posteriormente ao Iluminismo racionalista?! mas, infelizmente para alguns, foi na Idade Média, na "Idade da Trevas"...

                   Homenagem ao ilustre desconhecido cujos escritos ajudaram no desenvolvimento da Razão ocidental e nas Universidades recém fundadas pela Igreja Católica, que ensinavam Teologia, Medicina e Direito.

                   Citações retiradas do livro Didascalicon de studio legende escrito em 1127 d.C pelo monge saxão Hugo de São Vítor, um dos responsáveis pela pedagogia Vitoriana. Teólogo que também influenciou a sistematização da Antropologia Teologica (O estudo do homem do ponto de vista da relação com Deus).

sexta-feira, 11 de março de 2011

Quaresma...

Tempo da Graça "Quaresma"!

    Iniciamos na quarta-feira de cinzas mais um período da Quaresma em nossas vidas. A média de vida do brasileiro está em 73 anos. Se pensarmos que a partir dos 13 anos de idade, quando já tivemos nossa iniciação básica cristã e nossa capacidade de abstração pode compreender o que é a Quaresma, teremos em média apenas 60 oportunidades de vivenciar este período, que culmina com o rito de rememoração da Paixão de Cristo.

    Poucas chances, em toda nossa existência sobre a face da Terra, para compreender verdadeiramente o que é a vida em Cristo, a Vida de conversão...
    O primeiro ponto a se refletir é o significado da quarta-feira de cinzas "Do pó viemos e ao pó voltaremos." Nos reconhecermos como criaturas finitas e frágeis, suscetíveis a variação hormonal, emocional, fisica e financeira... Querer se fazer forte, independente de todos os outros seres humanos é o erro básico, para caminhar rumo a auto destruição. A proposta da Quaresma é um convite para que todos os cristãos de braços dados se fortaleçam no caminho da conversão, no caminho da Verdade, no caminho da Vida que é Jesus Cristo.

    A Igreja aconselha que à exemplo de Jesus Cristo, que se submeteu no deserto durante 40 dias a oração,  jejum e finalmente as tentações, assim também nos propormos a práticas de oração, jejum e caridade.
  Deus não precisa destas práticas, para nos salvar ou dar Graças. Isto ele oferece de forma gratuita para nós. No entanto, se alguém nos oferece um presente mas não estamos olhando para pessoa, não estamos voltados para ela ou pior; nem sequer estamos próximos dela, como receberemos este presente?

  Caminharmos juntos nestas práticas intensificadas de oração, jejum e caridade servirá para nos aproximarmos mais de Deus e estarmos sensíveis e ao mesmo tempo atentos, como soldados em tempo de guerra, para quando o Senhor quiser que sejamos seu instrumento. Sendo assim, eu não consigo sozinho, mas estou pronto, vamos juntos?

Vamos debater sobre sustentabilidade e meio ambiente?

segunda-feira, 7 de março de 2011

O Ritual

Filme "O Ritual" e afins

    Neste final de semana assisti o filme "O Ritual". Logo que saí do cinema com minha esposa e um casal de amigos senti que estamos em guerra. Na verdade duas formas de guerra. Uma é de linhas ideológicas a outra é transcendental.
     A primeira guerra se refere aos ataques sucessivos que os meios de comunicação adeptos do laicismo e ateísmo ceticistas estão realizando contra as religiões. Devo admitir que os fundamentalistas religiosos cooperam para fomentar isto. No entanto, quem sofre é a maioria das pessoas que professam uma fé de forma equilibrada. As mentes são bombardeadas de informações como: "Deus está morto" , "quem tem fé é ignorante.", "se não é provado, não é verdadeiro.", "viva a vida hoje, carpie diem", "faça o que queres", "a Igreja é a Inquisição", "a Igreja é as cruzadas" , "a Igreja ocultou a verdade" , "a Igreja é contra a ciência"..... Os heróis, claro, são os cientistas materialistas, os bruxos, os ocultistas ou se projeta a algum tipo de mundo de fantasia que nenhuma religião tradicional tem acesso e que remetem a conteúdos míticos gregos, nordicos, etc.... A maioria dos filmes que assisti tinha estes temas, na verdade os filmes mais populares no mercado tem estes temas.
    Algumas semanas atrás pensei; porque a Igreja não reage, porque as ordens religiosas e pessoas multimilionárias que professam uma fé, e que é a maioria da população mundial, não reage...cogitei a possibilidade de que a não reação fosse um padrão de santidade...Buda permitiu ser apedrejado, Jesus permitu ser Crucificado....mas assisti dois filmes um fraco, que se chama "O último exorcismo" e outro que este sim fiquei admirado acertou em cheio. 
      "O Ritual" com o excelente ator Anthony Hopkins e a atriz brasileira Alice Braga mostra o que a religião, e mais precisamente, a Igreja Católica tem de poderosa a favor de humanidade. Um poder que tras consigo a história, pelo menos do centro-ocidente do mundo, e sua sabedoria. Mostra que quando se trata do Sagrado não é embasado em crendices. Aliás pode até haver crenças populares, mas fica nas camadas iletradas. Quando o debate se torna aprofundado todos os recursos são utilizados, desde os melhores especialistas à equipamentos tecnológicos. O gênero do filme foi colocado como terror, mas acho que ficaria melhor classificado como utilidade pública; de como se trata o estudo religioso, sobre como a Igreja vê fenômenos demoníacos e a seriedade que lida com eles. Claro que como em qualquer filme tem cenas que são esdrúxulas "o padre atender o celular no meio de um exorcismo foi uma delas" totalmente desnecessário, se era para mostrar o quão comum era aquilo foi apelativo demais, poderia ter passado a mesma informação de uma forma sutil, quase jogou o filme no lixo por causa desta cena. No entanto, o final foi genial várias concepções teológicas foram abordadas. 
       A partir de agora peço que o leitor que não assistiu retome a leitura após vê-lo, caso queira assumir o risco advirto que entrarei em detalhes sobre o final do filme.
        
       O filme é embasado numa história real do livro de Matt Baglio, um jornalista americano que acompanhou o padre Gary Thomas. O filme mostra as angústias da vida de um sacerdote, principalmente o celibatário. Além do turbilhão de mensagens subliminares e indução que toda população mundial sofre para se pensar da forma mais racionalista e cética possível. Daqui a pouco até a poesia irá morrer, porque como manter a sensibilidade mais básica sendo racionalista e cético para tudo. Ouvir uma declaração de amor será impossível, pois exigir que a pessoa prove vai ser um debate sem fim. O que estou querendo dizer com estes exemplos é que até mesmo um religioso fervoroso pode sofrer destas "noites escuras" , ausência de fé, vazio de Deus... isto é uma realidade e são expressões conhecidas dos místicos. No final do filme a discussão se aprofunda quando o protagonista é colocado na situação em que responde todas as suas perguntas, em que a obviedade do transcendente se torna gritante e ele tem que se decidir. Aí que o problema se torna maior, porque ele descobre que o problema está em primeiro lugar nele mesmo, em ele acreditar em si próprio antes de acreditar em alguma coisa. Uma afirmação de que o cético é um inseguro sobre si mesmo, que precisa provar tudo que está em volta para poder caminhar. 
       Neste momento a mocinha surge, para desempenhar um papel que é importantíssimo na teologia cristã; não conseguimos fazer nada sozinhos, pois somos frágeis, precisamos da comunidade e esta inicia-se no casal, na amizade, no amor ao próximo. Resgatada sua confiança em si mesmo ele encara o desafio, que é bater de frente com o mal, mas este busca convencê-lo que tudo que aconteceu em sua vida, todos os erros, era para encaminhá-lo para ser servo do demônio. Esta artimanha é citada por vários místicos na história da Igreja, e fora dela, que o maligno utiliza para escravizar os seres humano, de forma menos explícita claro Finalmente, utilizando Santo Agostinho na decisão crucial, o padre afirma que acredita no Demônio, mas que também agora acredita em Deus e de livre arbítrio escolhe. Exorcisa-o em nome de Seu Filho Jesus Cristo e confirma sua fé de forma plena, tornando-se um verdadeiro convertido e confirmando seus votos de sacerdote.
      Sinceramente, gostei do filme e tanto minha esposa quanto meus amigos, que não são católicos fervorosos, também gostaram muito. Espero que os produtores com viés religioso continuem caprichando nestas obras, está cheio de histórias de santos esperando por produções cinematográficas mais dignas, filmes sobre a história da fundação das primeiras universidades e dos hospitais pela Igreja Católica na Idade Média. O atendimento de leprosos principalmente pelos Franciscanos, o ensino Marista e a historia de Marcelino Champagnat e muito mais... que inspire a juventude e a humanidade na Verdade.
   

sexta-feira, 4 de março de 2011

"Carnis Valles" ou simplismente Carnaval, festa cristã?!

    O Carnaval como elemento da história se formou como festa popular que antecipa o tempo da Quaresma. Quaresma é o período de reflexão sobre a vida cristã, o ser cristão. Onde mantém-se o foco na oração, penitência e caridade. Relembrando os 40 dias de meditação e tentação sofrida por Nosso Senhor Jesus Cristo.
     Este período prepara-nos para semana santa, que culmina no momento máximo da Revelação Divina em Jesus, sua morte na cruz e ressurreição. Pensar que o carnaval pode-se tudo, para purgar na Quaresma, é um equívoco ou imaginar que sendo cristão, principalmente católico, pode-se fazer tudo, que depois basta me confessar que fica tudo ok! contradiz o ser convertido. Se ainda fazemos tudo o que o mundo nos oferece e que sabemos nos levará ao caminho do erro é hora de rever a nossa conversão. Pois a consequência dela é agirmos como modelo em Cristo e buscando "ser perfeitos como o Pai é." Somos profetas em potencial de Deus, mas seremos falsos profetas se nossos frutos não forem coerentes com a profissão de fé. Esta conversão vem por meio da nossa fé e Graça de Deus. 
     Desta forma não se trata de reprimir desejos ou o instinto humano, mas canalizá-los, por Dom, ofertado por Deus, de auto conhecimento e auto preservação. Citando o caro Prof. DR Agenor Brighenti "Deus se propõe, bate a nossa porta. Mas a fechadura para abri-la está do lado de dentro." ou  em João  "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo." Ap (3,20).  Excelente momento este da Quaresma, para renovarmos nossa conversão e no sábado de Aleluia o rito do batismo. Por fim, relembrando as palavras do convertido Paulo : 1Co (6,12)

   "Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma."


Abaixo se tiverem curiosidade algumas explicações sobre a origem do carnaval e como fazer o cálculo da data;
     "A festa carnavalesca surgiu a partir da implantação, no século XI, da Semana Santa pela Igreja Católica, antecedida por quarenta dias de jejum, a Quaresma. Esse longo período de privações acabaria por incentivar a reunião de diversas festividades nos dias que antecediam a Quarta-feira de Cinzas, o primeiro dia da Quaresma. A palavra "carnaval" está, desse modo, relacionada com a ideia de deleite dos prazeres da carne marcado pela expressão "carnis valles", que, acabou por formar a palavra "carnaval", sendo que "carnis" do grego significa carne e "valles" significa prazeres.
MardiGrasPaull1897Cover.jpg
    Em geral, o carnaval tem a duração de três dias, os dias que antecedem a Quarta-feira de Cinzas. Em contraste com a Quaresma, tempo de penitência e privação, estes dias são chamados "gordos", em especial a terça-feira (Terça-feira gorda, também conhecida pelo nome francês Mardi Gras), último dia antes da Quaresma.[4] Nos Estados Unidos, o termo mardi gras é sinônimo de Carnaval.
   O carnaval da Antiguidade era marcado por grandes festas, onde se comia, bebia e participava de alegres celebrações e busca incessante dos prazeres. O Carnaval prolongava-se por sete dias na ruas, praças e casas da Antiga Roma, de 17 a 23 de dezembro. Todas as actividades e negócios eram suspensos neste período, os escravos ganhavam liberdade temporária para fazer o que em quisessem e as restrições morais eram relaxadas. As pessoas trocavam presentes, um rei era eleito por brincadeira e comandava o cortejo pelas ruas (Saturnalicius princeps) e as tradicionais fitas de lã que amarravam aos pés da estátua do deus Saturno eram retiradas, como se a cidade o convidasse para participar da folia.

   No período do Renascimento as festas que aconteciam nos dias de carnaval incorporaram os baile de máscaras, com suas ricas fantasias e os carros alegóricos. Ao caráter de festa popular e desorganizada juntaram-se outros tipos de comemoração e progressivamente a festa foi tomando o formato atual.
   
   Todos os feriados eclesiásticos são calculados em função da data da Páscoa[5], com exceção do Natal. Como o domingo de Páscoa ocorre no primeiro domingo após a primeira lua cheia que se verificar a partir do equinócio da primavera (no hemisfério norte) ou do equinócio do outono (no hemisfério sul), e a sexta-feira da Paixão é a que antecede o Domingo de Páscoa, então a terça-feira de Carnaval ocorre 47 dias antes da Páscoa."

   Fonte: Wikipedia
   

quarta-feira, 2 de março de 2011

Fazer teologia tem que ter poesia

   Desde que o conheci na adolescência tinha como modelo, por sua simplicidade e sensibilidade. Morreu pobre e dizia que nem mesmo filhos deixaria para o mundo, apenas sua poesia. Para mim, o maior dos poetas brasileiros e nem sequer entrou para Academia Brasileira de Letras.

    "O amor é quando a gente mora um no outro."  Mario Quintana




   

terça-feira, 1 de março de 2011

Teologia do pluralismo religioso



     José María Vigil é teólogo espanhol claretiano, naturalizado nicaraguense e que vive atualmente no Panamá. É o responsável pela Comissão Teológica na América Latina da Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo (ASETT/EATWOT) e colabora com o sítio Servicios Koinonía, além de coordenar todos os anos a edição da "Agenda Latino-Americana Mundial". Estudou teologia em Salamanca e em Roma, e psicologia em Salamanca, Madri e Manágua, e é doutor em educação em novos paradigmas pela Universidade La Salle de San José,Costa Rica. Dentre seus livros, destacamos Teologia do pluralismo religioso. Para uma releitura pluralista do cristianismo (Paulus, 2006, 469 páginas).





IHU On-Line – Em 2011, será realizada a oficina "Religiões e Paz: A visão/teologia necessária para tornar possível uma Aliança de Civilizações e de Religiões para o bem comum da humanidade e a vida no planeta", dentro da programação do FSM. Qual o objetivo de fundo para propor este debate hoje?

    José María Vigil – Em Dakar, o Forum Social Mundial terá duas frentes de atividades. Uma será pública e aberta, organizando e realizando "atividades autogestionadas" como as que farão outras muitas entidades e movimentos. E outra frente será um "seminário de elaboração teológica", uma atividade própria e interna, com a participação de teólogos e teólogas vindos de todo o mundo, representando entidades, movimentos, universidades, associações, para dar uma contribuição de produção teológica mesmo, que versará desta vez sobre o futuro da teologia.
    A oficina "Religiões e Paz" pertence à primeira frente de atividades do Forum Mundial Teologia e Libertação no FSM, e é uma das mais de dez oficinas semelhantes, sobre temáticas diferentes, devidas à iniciativa do FMTL. A realização concreta dessa oficina foi encomendada à ASETT ou EATWOT e já começou na sua fase que podemos chamar de “telemática”.

O objetivo de fundo é fazer avançar o aprofundamento da consciência que todos nós temos cada vez mais clara da urgência de pôr as religiões a trabalhar juntas pela paz do mundo e pelo bem-estar da vida no planeta. É um tema que já se tornou lugar-comum nas últimas décadas: as religiões não dialogam; coexistem simplesmente, não conseguem apagar os muitos focos de conflitos inter-religiosos que ainda ardem no mundo atual e não se dão conta de que a emergência ecológica na qual estamos é provocada por um sistema social, por ideologias e por concepções sobre a nossa relação com a natureza, elementos que, em boa parte, têm sido criados pelas religiões. Essa oficina programada pelo FMTL quer questionar, em um foro tão amplo como o FMS, a necessidade de conscientizar sobre essa problemática, de elaborar a "visão ou teologia necessárias", e não de nos acostumar à falta atual de diálogo.


IHU On-Line – E qual seria a conjuntura concreta ou o aspeto concreto ao qual ela se dirige?

     José María Vigil – Dentro desse grande objetivo, a oficina "Religiões e Paz" quer se concentrar no aspeto profundo e interno, diríamos teológico. Não quer ser uma conversa sobre as condições sociopolíticas conjunturais atuais das possibilidades do diálogo e da paz, mas das condições internas que permitem ou bloqueiam o diálogo das religiões, além ou antes de as condições sociopolíticas permitirem. Quer dizer: o grande problema ou obstáculo para as religiões se falarem, dialogarem, se unirem... não é externo, mas sim interno. É ideológico, teológico, epistemológico até.
    Mesmo que duas religiões estejam em boa vizinhança, com frequência não dialogam, nem podem dialogar. Podem se levar bem e, no máximo, como se viu claramente em Assis, podem se convocar para rezar juntas em uma mesma cidade, mas em separado, e fazer depois uma fotografia todas juntas, mas só até aí. Diálogo religioso mesmo – perguntarem-se mutuamente a respeito do que pensam de si e das outras, tentar encontrar os elementos "homeomórficos" (que têm uma função semelhante) em cada uma delas e que talvez compartilham, se estudarem mutuamente, se perguntarem sobre o que poderiam e deveriam fazer juntas para animar a humanidade a se superar e a superar o momento atual –, isso, infelizmente, não está sendo feito. Estão paralisadas. Nenhuma sabe como se poderia fazer.
    E têm alguma coisa dentro que as continua paralisando: o complexo de superioridade, a convicção de ter a verdade total e não poderem apreender nada das outras, a consciência de serem cada uma "a única religião verdadeira" ou "a melhor", ou aquela à qual todas as outras devem vir a se converter... Não podem dialogar mais do que em aparência formal.

Fórum Social Mundial e Fórum Mundial Teologia e Libertação( FMTL )


   Um balanço do Fórum Social Mundial e do Fórum Mundial Teologia e Libertação. Entrevista especial com Cleusa Andreatta
   O próximo Fórum Mundial de Teologia e Libertação deverá investir em fóruns locais e regionais, mantendo a articulação em rede com os diferentes contextos via internet, prevê a teóloga gaúcha.


   Abaixo uma parte da entrevista com a teóloga, colocações bastante pertinente para o desafio que os seres humanos terão para os próximos anos. A entrevista completa está na indicação de fonte.





IHU On-Line – Como é possível, a partir das discussões do FMTL, pensar uma teologia do pluralismo religioso?

    Cleusa Andreatta – A teologia do pluralismo religioso esteve presente do FMTL junto de outros temas abordados. Algumas questões e situações aí vividas e evidenciadas sinalizam alguns aspectos a se ter em conta.
Estivemos num contexto de presença muçulmana majoritária e não conseguimos a participação de nenhum muçulmano em nosso fórum de teologia. Encontramos algumas respostas práticas para isso, mas permaneceu uma pergunta aberta pelas razões dessa ausência. Entretanto, Dacar/Senegal tem como característica uma convivência pacífica e respeitosa entre cristãos e muçulmanos, com importantes situações de colaboração na vida cotidiana. Penso que uma teologia “formal” do pluralismo religioso deve debruçar-se sobre experiências concretas de encontro, convivência e diálogo inter-religioso como essa e tirar as consequências para a reflexão teológica.
    A questão do pluralismo foi abordada em diferentes momentos em conexão com outros temas tratados no Fórum. O insistente destaque a termos como pluralidade, pluralismo, diversidade, diferenças, interculturalidade ao longo de todo o fórum e em relação a diversos temas e questões, aponta para uma teologia do pluralismo religioso que deve desenvolver-se na intersecção ou em interlocução com outras questões como paz/violência, crise ecológica, gênero, cultura/interculturalidade, entre outras.
    Além disso, o FMTL, de diferentes modos, tornou presente a diversidade de experiências religiosas. As experiências das pessoas e comunidades estão estreitamente vinculadas ao contexto concreto de suas vidas, onde se entrelaçam as diversas dimensões do seu existir cotidiano e se consolidam as condições de possibilidade das estruturas de sentido. Uma teologia do pluralismo religioso precisa tratar com profundo respeito e reconhecimento as diferentes experiências religiosas, em sua singularidade na aproximação ao mistério de Deus. Por outro lado, destaca-se de novo que toda a teologia precisa ter sempre presente o que aprendemos da teologia negativa e apofática: o Mistério de Deus não se deixa limitar por nenhuma experiência ou conhecimento que dele podemos ter. Esse reconhecimento mantém a abertura da fé para reconhecer as possibilidades de Deus se manifestar e ser reconhecido em diferentes experiências religiosas.