terça-feira, 1 de março de 2011

Teologia do pluralismo religioso



     José María Vigil é teólogo espanhol claretiano, naturalizado nicaraguense e que vive atualmente no Panamá. É o responsável pela Comissão Teológica na América Latina da Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo (ASETT/EATWOT) e colabora com o sítio Servicios Koinonía, além de coordenar todos os anos a edição da "Agenda Latino-Americana Mundial". Estudou teologia em Salamanca e em Roma, e psicologia em Salamanca, Madri e Manágua, e é doutor em educação em novos paradigmas pela Universidade La Salle de San José,Costa Rica. Dentre seus livros, destacamos Teologia do pluralismo religioso. Para uma releitura pluralista do cristianismo (Paulus, 2006, 469 páginas).





IHU On-Line – Em 2011, será realizada a oficina "Religiões e Paz: A visão/teologia necessária para tornar possível uma Aliança de Civilizações e de Religiões para o bem comum da humanidade e a vida no planeta", dentro da programação do FSM. Qual o objetivo de fundo para propor este debate hoje?

    José María Vigil – Em Dakar, o Forum Social Mundial terá duas frentes de atividades. Uma será pública e aberta, organizando e realizando "atividades autogestionadas" como as que farão outras muitas entidades e movimentos. E outra frente será um "seminário de elaboração teológica", uma atividade própria e interna, com a participação de teólogos e teólogas vindos de todo o mundo, representando entidades, movimentos, universidades, associações, para dar uma contribuição de produção teológica mesmo, que versará desta vez sobre o futuro da teologia.
    A oficina "Religiões e Paz" pertence à primeira frente de atividades do Forum Mundial Teologia e Libertação no FSM, e é uma das mais de dez oficinas semelhantes, sobre temáticas diferentes, devidas à iniciativa do FMTL. A realização concreta dessa oficina foi encomendada à ASETT ou EATWOT e já começou na sua fase que podemos chamar de “telemática”.

O objetivo de fundo é fazer avançar o aprofundamento da consciência que todos nós temos cada vez mais clara da urgência de pôr as religiões a trabalhar juntas pela paz do mundo e pelo bem-estar da vida no planeta. É um tema que já se tornou lugar-comum nas últimas décadas: as religiões não dialogam; coexistem simplesmente, não conseguem apagar os muitos focos de conflitos inter-religiosos que ainda ardem no mundo atual e não se dão conta de que a emergência ecológica na qual estamos é provocada por um sistema social, por ideologias e por concepções sobre a nossa relação com a natureza, elementos que, em boa parte, têm sido criados pelas religiões. Essa oficina programada pelo FMTL quer questionar, em um foro tão amplo como o FMS, a necessidade de conscientizar sobre essa problemática, de elaborar a "visão ou teologia necessárias", e não de nos acostumar à falta atual de diálogo.


IHU On-Line – E qual seria a conjuntura concreta ou o aspeto concreto ao qual ela se dirige?

     José María Vigil – Dentro desse grande objetivo, a oficina "Religiões e Paz" quer se concentrar no aspeto profundo e interno, diríamos teológico. Não quer ser uma conversa sobre as condições sociopolíticas conjunturais atuais das possibilidades do diálogo e da paz, mas das condições internas que permitem ou bloqueiam o diálogo das religiões, além ou antes de as condições sociopolíticas permitirem. Quer dizer: o grande problema ou obstáculo para as religiões se falarem, dialogarem, se unirem... não é externo, mas sim interno. É ideológico, teológico, epistemológico até.
    Mesmo que duas religiões estejam em boa vizinhança, com frequência não dialogam, nem podem dialogar. Podem se levar bem e, no máximo, como se viu claramente em Assis, podem se convocar para rezar juntas em uma mesma cidade, mas em separado, e fazer depois uma fotografia todas juntas, mas só até aí. Diálogo religioso mesmo – perguntarem-se mutuamente a respeito do que pensam de si e das outras, tentar encontrar os elementos "homeomórficos" (que têm uma função semelhante) em cada uma delas e que talvez compartilham, se estudarem mutuamente, se perguntarem sobre o que poderiam e deveriam fazer juntas para animar a humanidade a se superar e a superar o momento atual –, isso, infelizmente, não está sendo feito. Estão paralisadas. Nenhuma sabe como se poderia fazer.
    E têm alguma coisa dentro que as continua paralisando: o complexo de superioridade, a convicção de ter a verdade total e não poderem apreender nada das outras, a consciência de serem cada uma "a única religião verdadeira" ou "a melhor", ou aquela à qual todas as outras devem vir a se converter... Não podem dialogar mais do que em aparência formal.

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